As novas peças e séries de móveis de Maurício Azeredo revelam sensível mudança de rumo na linguagem do designer, que foi uma das atrações do Ano do Brasil na França (série de eventos sobre cultura brasileira realizados em 2005, naquele país europeu). Embora o manejo da madeira e a preocupação com a sustentabilidade de espécies nativas - sobretudo as amazônicas - continuem como eixos conceituais de atuação, o que se nota na produção atual de Azeredo é o predomínio de peças com estética menos robusta.
Alguns dos elementos dessa nova fase na produção de Maurício Azeredo são as composições assimétricas, a explicitação dos componentes estruturais e a crescente simplificação do processo construtivo, visando inclusive a diminuição dos custos de fabricação. “A intenção é evidenciar plasticamente o uso sustentável da madeira, uma opção viável em quaisquer escala e unidade de produção”, explica o designer.
A série Do Avesso, por exemplo, resulta da completa fragmentação dos componentes construtivos. No total, 11 réguas planas e uma levemente curva conformam a cadeira de encosto baixo, que é conceitualmente a mais representativa da coleção. Em trios, essas peças constituem o assento, o encosto, os pés e a estrutura horizontal, o que garante extrema liberdade de escolha e combinação das espécies naturais. Uma das versões mistura, por exemplo, cumaru, muirapiranga e pau-ouro, madeiras de cores contrastantes.
O designer constituiu um grande acervo de resíduos florestais em seu ateliê, localizado na cidade de Pirenópolis, em Goiás. “Adotamos a classificação, a estocagem das sobras e, respeitosamente, nos dedicamos ao estudo de seu uso. O desenho sustentável resulta, então, de criatividade, organização e planejamento”, enfatiza Azeredo. A coleção Do Avesso entrou em produção, pelo próprio autor, no início de 2005 e é composta ainda por aparador, mesas de refeições e de centro - todos os itens, portanto, de uso residencial.
A Velho Goiás é outra série de móveis concebida recentemente por Azeredo. Inspirada na mobília colonial goiana, ela destaca a simplicidade de detalhes por meio da escassez de elementos decorativos e do uso exclusivo de encaixes entre peças maciças. O banco da coleção tem assento côncavo, a exemplo do Ressaquinha, que venceu o Prêmio Design Museu da Casa Brasileira em 1998 (leia PROJETO DESIGN 230, abril de 1999), mas dele difere em dois aspectos principais: o tipo de junção entre assento e pés e a menor alternância entre as faixas longitudinais de madeira. Na Velho Goiás, somente as extremidades do assento e o centro dos pés têm listras de cor e textura destoantes, o que ocorre pelo contraste entre a muirapiranga e o intenso amarelo da faixa de pau-ouro. Além disso, assento e pés são visualmente independentes, já que a estruturação transversal da peça é feita por barra circular de muirapiranga.
O designer também atua recentemente na concepção de mobiliário institucional e corporativo, como o banco criado para a igreja São Lourenço dos Índios, em Niterói, RJ, e as mesas e balcão de atendimento desenhados para um escritório de propriedade intelectual, em São Paulo.
Fonte: www.arcoweb.com.br
Texto resumido a partir de reportagem de Evelise Grunow
Publicada originalmente em PROJETODESIGN Edição 315 Mario de 2006
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